Sunday, May 17, 2009

Un Prophète (competição)


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


É só depois do primeiro final de semana que as cartas começam a ser colocadas na mesa no Festival de Cannes. Nos últimos três dias, temos já um favorito francês à Palma, o drama da vida bandida Un Prophète, de Jacques Audiard. Le Prophète é o produto nacional querido na competição, recebeu raros aplausos demorados na sessão de imprensa e uma ovação de 12 minutos na sessão de gala. Bem feito, sério, com duas horas e meia e excelentes atuações, esse drama sobre a vida no crime dentro de uma prisão tem forte sabor do cinema clássico francês que canaliza o americano, vide Jean Pierre Melville ou Bob Swaim. O diretor, Oudiard, fez De Tanto Bater Meu Coração Parou, figura de respeito na França.

Nos mostra a ascensão de Malik (Tahar Rahim, excelente), garoto de origem árabe de 19 anos, preso por agredir um policial. Pela dureza do sistema interno e suas regras e valores, irá passar por um PhD do crime e se transformar numa figura de destaque a partir de um assassinato que é obrigado a cometer contra um delator também árabe, que ameaçava um chefão ali preso (Niels Arestrup).

A cena da morte, que nos mostra o que nosso Malik é capaz, não deverá sobreviver a uma refilmagem americana. É o tipo de detalhe que gera respeito no espectador em filmes onde heróis não são exatamente heróis, mas animais assustados à procura de sobrevivência.

A ascensão de Malik será acompanhada de visitas poéticas do fantasma do homem que matou, um dos toques especiais desse thriller humano e seguro que parece ter deixado a crítica e público franceses três graus acima de entusiasmo em relação aos observadores estrangeiros.

Un Prophète, que estréia na França em agosto (deverá ser um grande sucesso de bilheteria) é todo bom e tudo mais, mas não nos surpreende em nada no gênero. Talvez sejam as expectativas típicas de Cannes, onde estamos sempre procurando uma descoberta, um susto, filmes de outro planeta. Visto longe daqui, posso lidar melhor com o fato de que é apenas bem bom.

Filme visto na Lumière, Cannes, 16 de Maio 2009

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