Tuesday, January 19, 2010

Atividade Paranormal


por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com


Um grupo de quatro garotas adolescentes foi parar na mesma sessão de pré-estréia de Atividade Paranormal (Paranormal Activity, EUA, 2009), onde vi o filme. Elas não pareciam saber no que estavam se metendo, talvez estivessem fazendo hora até que seus pais fossem coletá-las. Depois de muitos gritinhos e chiliques durante a projeção, e findo o filme, uma se levanta e pergunta a outra « vê se o xixi deixou mancha na minha calça ».

É uma pequena demonstração física dos efeitos sobrenaturais desse filminho terrivelmente eficaz de horror e medo, que chega para integrar uma pequena casta de filmes de gênero onde o impacto vem exatamente do “menos”, e não do “mais”. Isso num mercado que vende o excesso como produto.

Atividade Paranormal, por exemplo, é lançado no mesmo mês que vê 2012, de Roland Emmerich, destruir o planeta com 200 milhões de dólares de orçamento. Por mais divertidos que terminem sendo, filmes balofos como a norma aumentam o grau de admiração por obras magrelas e de extrema eficiência como Mar Aberto (Open Water) ou esse Atividade Paranormal.

O filme do realizador até então desconhecido Oren Peli se passa dentro de um quarto, onde dorme um casal. Os principais objetos de cena são a cama, uma porta (quase sempre aberta) e a própria câmera digital. A câmera é usada para registrar uma assombração que parece rondar a esposa desde a infância. A aquisição da câmera dá-se pelo fato de os incidentes sobrenaturais estarem piorando em grau de ruído e ameaça.

A casta à qual pertence Atividade Paranormal reúne a mais óbvia referência no gênero (e na estrutura) que é o também muito assustador A Bruxa de Blair, de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, lançado há exatamente dez anos. Ali, discretas assombrações eram captadas por câmeras em cena, dando coices de pavor no espectador.

Os dois filmes foram muito divulgados via internet (Blair foi revolucionário nesse sentido) e realizados originalmente com orçamentos irrisórios. Atividade Paranormal teria custado 15 mil dólares a Peli, que vendeu o filme ao estúdio Paramount. O resultado, que sofreu uma mudança (no final) sugerida por Steven Spielberg, é esse que chega aos cinemas depois de um crescendo de marketing e boca a boca.

Sobre o filme em si, resta admirá-lo. O casal (Micah Sloat e Katie Featherston) chama um médium para ouvir uma opinião sobre a assombração. O personagem do médium reflete a naturalidade do todo. Ele não usa turbantes, não tem sotaque estrangeiro nem parece charlatão. No entanto, é a segunda visita assustada do homem que parece nos preparar para o ato final, realmente pavoroso. É muito boa a forma como esse homem comum, de meia idade, dá marcha ré, meia volta volver.

Não é à toa que o filme se passa quase todo dentro de um quarto. A área construída mais íntima de uma casa, é lá onde passamos horas entregues à inconsciência, de certa forma indefesos, no mundo dos sonhos e de, vez ou outra, sob terríveis pesadelos. Quartos têm algo de salas de cinema. Esse filme é um desses sonhos ruins, e é muito bem feito como tal.

Filme visto no UCI Boa Viagem, Recife. Novembro 2009.

1 comment:

Fábio Henrique Carmo said...

Pra mim, esse "Atividade Paranormal" sai apenas razoável. Tive apenas alguns sustos durante a sessão, mas nada que impressionasse muito. Esse esquema "Bruxa de Blair" já está ficando batido e sempre acho que um filme de terror como "O Iluminado" causa muito mais efeito do que esses cines Youtube.