Tuesday, January 19, 2010
O Nome Dela é Sabine
por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com
O Nome Dela é Sabine (Elle S’Appelle Sabine, França, 2007) é um desses filmes pequeninos que ocupam espaço grande no espectador. É um esforço pessoal, fruto de alguém que teve a necessidade de compartilhar com o mundo algo que lhe afligia e lhe comovia, no caso a atriz francesa Sandrine Bonnaire. Ela filma a sua irmã Sabine, um ano mais velha, e sua trajetória de vida sob a condição bastante genérica conhecida como autismo.
Sandrine, nome respeitado no cinema e teatro franceses, partiu para fazer um filme doméstico, com imagens do arquivo da sua família, e com ela mesma empunhando câmeras de vídeo analógico e, mais tarde, digital. O fez ao longo de muitos anos, narrando em curtas descrições e confissões a vida e a forma como os mais íntimos administraram, ou tentaram lidar, com Sabine.
O filme parece juntar-se a relatos de realizadores que debruçam-se sobre imagens íntimas do seu passado para falar deles mesmos como o americano Tarnation (2004), de Jonathan Caouette, e o brasileiro Santiago, de João Moreira Salles.
O Nome Dela é Sabine vai se alojando no espectador pela sobriedade que normalmente associamos às narrativas mais importantes do cinema francês, que, em geral, evita o sentimentalismo como o diabo corre da cruz. Fatos, sensações, impasses, a beleza e a tristeza são apresentados pelo que são, sem condimentos.
Sandrine, depois de anos tentando junto à mãe e os irmãos cuidar de Sabine, enfrenta a verdade crua de que houve um cansaço geral de todos após 20 e tantos anos. Isso levou Sabine a um hospital psiquiátrico, onde passou cinco anos, e de onde saiu um ser humano devastado física (remédios) e psicologicamente (sensação forte de abandono).
Sem culpar ninguém, nem ela mesma que tinha já seus próprios filhos, a narradora nos mostra os resultados da internação em contraste com imagens radiantes do momento mais feliz da sua irmã, uma viagem de férias aos EUA com a própria Sandrine, viagem feita no hoje aposentado Concorde. Essas imagens de alegria ganham ar mítico não só pela passagem do tempo, mas também com esse detalhe factual de que elas foram de Concorde. É especial, e já muito distante.
As intenções de Sandrine com seu filme parecem claras na forma como são sugeridas. Os estímulos do amor e da aventura simbolizada pela viagem aos EUA são o que constroem. O abandono e a entrega à ciência pura e simples destroem. Mesmo assim, nada é realmente tão simples na prática.
O filme é uma abertura e tanto para que possamos entender melhor os poderes e os limites não só do corpo humano, mas dos poderes e limites do próprio amor.
Filme visto no Cine Rosa e Silva, Recife, Novembro 2010.
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