Tuesday, January 19, 2010

Cinema São Luiz (Recife) Reabre




por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com

Texto originalmente publicado no Jornal do Commercio

O Cinema São Luiz reabre suas portas a partir de hoje. Nos próximos dias, o palácio de filmes da Rua da Aurora, inaugurado em 1952 e fechado pelo Grupo Severiano Ribeiro para a programação comercial em 2006, estará passando por testes numa espécie de 'soft opening'. De hoje a sexta, exibe dois filmes pernambucanos por dia, em regime especial de entrada franca. Fica também definido, a partir de agora, que o programador do São Luiz, na sua nova fase, é Geraldo Pinho, integrante do quadro da Fundarpe e que tem vasta e feliz experiência como programador do Cinema do Parque nos anos 90.

Isso significa que Lula Cardoso Ayres Filho, força essencial no trabalho de restauração da sala, mas que passou a discordar de alguns dos caminhos tomados pela Fundarpe - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco em relação ao perfil de programação, não terá mais a função de programador. Uma fonte de dentro da Fundarpe comentou ontem que, "de fato, não há mais clima, embora o contrato de Lula vá até fevereiro".

Pode-se dizer que a recíproca também é verdadeira em relação à própria Fundarpe. Nas últimas semanas que viram a reabertura oficial do cinema, dia 29 de dezembro, palavras duras foram trocadas entre as duas partes.

A reportagem falou ontem com Geraldo Pinho. Curiosamente, ele nos informou que ainda não teve nenhuma comunicação oficial de que a programação estará sob sua responsabilidade. Ele disse ter atendido pedido de Luciana Azevedo, presidente da Fundarpe, que acompanhasse a rotina do cinema nessa fase pré-abertura, sua estrutura e aspectos técnicos.

Por ter estado fora do Recife em dezembro, Pinho ainda não viu a nova projeção e som funcionando. Informou que o problema elétrico que ameaçou a noite oficial de reabertura (solucionado com geradores) foi resolvido. Sobre o trabalho de restauração creditado a Lula Cardoso Ayres, Pinho afirmou que "o São Luiz precisava de alguém que tivesse relação de amor com o cinema, como ele".

Pinho também adiantou que, depois de uma reunião recente, a Fundarpe já não trabalhará mais com a possibilidade de ter uma comissão curatorial para programar o novo São Luiz, ficando esse conselho responsável por uma troca de idéias produtiva que irá sugerir caminhos a serem tomados pelo espaço. Rodrigo Coutinho, assessor de imprensa da Fundarpe, por outro lado, confirma que a programação estará sob a responsabilidade de Pinho, mas com o auxílio da comissão.

O Governo de Pernambuco vem fazendo trabalho inédito e já histórico de apoio ao áudiovisual no estado em quase todas as frentes (a última fronteira a ser conquistada é a preservação do cinema pernambucano como arquivo). A restauração e reabertura do São Luiz é um projeto belíssimo, mas que, a partir de agora, precisa de um trabalho orgânico e de sintonia fina.

Pinho nos disse que, "caso seu nome seja confirmado, ele entende bem o tamanho do desafio que é programar o São Luiz, e que irá assumir o desafio de frente, mas sem ilusões".

Além disso, Recife precisa de mais uma sala competitiva, aberta para o mundo, que ajude o circuito a ser menos limitado na oferta de filmes. Com 44 salas comerciais exibindo Hollywood (Avatar estreou em 19) e apenas quatro cinemas (Rosa e Silva, Fundação, Parque e Apolo) tentando dar conta de filmes que não seriam lançados na cidade de outra forma, a tela do São Luiz é essencial para estimular a diversidade e mostrar que o cinema é mais amplo do que o pobre circuito pernambucano nos leva a crer.

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