Tuesday, January 19, 2010

Encontro de Casais


Bocó Island

por Kleber Mendonça Filho
cinemascopio@gmail.com

texto publicado originalmente no Jornal do Commercio

O gosto bom deixado pela colaboração de Vince Vaughn e Jon Favreau em Swingers (1996), jóia de filme, é tão forte que, 15 anos depois, ainda há boa vontade de ver alguma coisa com os dois atores. A decepção, aliás, é uma quase constante, como nesse Encontro de Casais (Couples Retreat, EUA, 2009).

Vaughn, um tipo alto e com cadência peculiar na maneira como interpreta suas falas, virou astro de Hollywood em filmes populares mais ou menos ruins como Penetras Bons de Bico, Separados Pelo Casamento e Surpresas do Amor. Favreau, tipo tenso, meio inchado, além de atuar com Vaughn nos dois últimos, fez um trabalho excelente como cineasta no muito divertido Homem de Ferro (2007).

Desta vez, eles são homens casados que, com suas esposas, juntam-se a dois outros casais para uns dias num paraíso tropical especializado em dar uma levantada em casamentos caídos. O filme foi rodado na Polinésia, num desses resorts gringos onde até o mar parece esterilizado.

O casamento de Dave (Vaughn) é, na verdade, o melhor e mais estável, o de Joey (Favreau) o segundo pior casamento, já que a idéia de viajar foi de Jason (Jason Bateman), cujas tentativas fracassadas de engravidar a esposa estão acabando com a união. O quarto casal é Shane (Faizon Love), recém divorciado que leva a namorada de 20 anos só para ver no que dá.

Material para graça existe, mesmo que o filme tivesse cortado o excesso de casais e ficado com apenas um. Casais casados podem ser engraçados, belos, enfurecedores e frustrantes, dependendo do estado de espírito. De qualquer forma, com quatro casais e oito personagens (nenhum deles realmente com cara de gente real), os produtores têm mais chances de atingir demografias maiores (Shane, por exemplo, é negro).

Tudo é tratado com aquela leve grosseria dos projetos comerciais que, na falta de uma verdadeira inspiração, passam a almejar o chamado “grande público” com denominadores cada vez mais baixos.

Para ilustrar as tentações dos casados, as esposas (Malin Akerman, Kristen Bell, Kali Hawk e Kristin Davis, sempre tão interessante na série Sex and the City, aqui desperdiçada) vêem num instrutor de ioga (Carlos Ponce) a figura mais grotesca possível do amante latino, cheio de duplos sentidos canhestros.

Há uma idéia boa que talvez os realizadores nem tenham se dado conta, e que parece definir o filme. Todas as soluções para problemas específicos são encontradas na artificialidade. Do próprio resort aos talentos musicais de Dave na guitarra (Rock Band), do anfitrião francês de Jean Reno às soluções infantis para os problemas adultos de uma comedia talvez promissora, mas feita, ao que parece, por uma equipe de gente mutcho oca.

O resultado é quase nada. A crença de que Vaughn e Favreau são caras legais, no entanto, continua.

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